Ela disse que seus cabelos não brilhavam mais e que o loiro virou branco. Reclamou de dores nas pernas e de insonia. Eu queria ajudar Lila, mas eu não sabia o que fazer. Afinal, assim como ela eu era apenas uma adolescente, com cabeça e atitudes de adolescente e só conseguia implorar para ela não abortar. Claro que na cabeça dela essa era a melhor e a única opção. Como eu poderia ajudar? O que fazer? Eu não tinha respostas para as minhas próprias perguntas e nem uma palavra de consolo para a minha melhor amiga.
As semanas pareciam passar rápido, cada dia Ricardo tentava se aproximar mais de mim. Bilhetes, risinhos, cantadas. Eu? Não entendia bulhufas do que estava acontecendo em minha vida. Um lado desmoronava. Eu tinha uma amiga desesperada que carregava uma vida dentro dela. O outro lado se erguia. Um gato estava caidinho por mim. Claro, eu pensava isso até receber a notícia que ele e Sophia estavam namorando e decidi que queria me afastar completamente. Só podia ser mais uma aposta com os outros garotos, alguma zoação, algo para me deixar mal e então quis tirar de vez ele da minha vida. Eu não era mais a mesma desde aquele tombo, desde aquele vento que tinha levado meus documentos para o meio do pátio, desde a notícia que a Lila estava gravidade de um babaca. Eu não era mais a mesma e ele não ia conseguir tirar meus pés do chão.
- Patríciaaa - A Lila chegou gritando desesperada.
- O que foi, menina?
- Eu tomei uma decisão, quero que você respeite e vá junto comigo.
- Que decisão? A cor do quarto da criança? - Nesse momento eu ri da minha própria idiotice. Aquilo era sério!
- Eu vou tirar isso de dentro de mim.
- Isso? Isso é seu filho!
- Não, essa coisa nem ta toda formada.
- Não fale assim dele, Lila.
- Patricia, você vai me ajudar ou não?
- Amiga, me perdoe, mas não vou matar ninguém. - A Lila começou a chorar desesperadamente e a única coisa que achei conveniente a fazer foi abraçá-la. - Não chora. Eu estou do seu lado. Vamos resolver juntas e essa criança vai nascer.
- Ele nunca mais vai querer nada comigo.
- Que se dane, Lila, que se dane. Você tem a mim e agora a essa criança.
- Me perdoa, por favor. - Nesse momento Lila me deu as costas e saiu ainda soluçando. E foi então que percebi que ela ia cometer um grande erro que mais tarde se arrependeria. Aprendi que não podemos interferir nos sentimentos dos outros por mais que sejam absurdos e então sentei no meio fio e chorei.
Talvez eu fosse uma inútil que não servia nem para ajudar minha própria amiga. Eu não tinha noção que aquilo poderia trazer tantos prejuízos quanto trouxe em um futuro próximo, mas ainda imatura e como uma criança que tem seu doce roubado, chorei. Chorei até sentir uma mão nos meus ombros e ao olhar pra cima ver aquele sorriso, aqueles olhos verdes e o cabelo arrepiado. Era o Ricardo.
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