As pessoas me perguntam do que eu tenho mais medo. Acho que entre tudo que eu realmente sinto medo (cobra, aranha, barata, atravessar rua, fogão, meu vizinho da casa ao lado, minha irmã com TPM e de qualquer confusão) é de perder minha personalidade. Deve ser por que todos são estranhos. Parecem aqueles robôs que obedecem seu dono, só que neste caso a sociedade é dona de todos, menos de mim.
Meu nome é Patrícia. Nada de paty, Pa, Tricia, P, nada disso. Só Patrícia. Normalmente me conhecem como ‘’a menina de óculos’’ por usar um gral altíssimo e não conseguir enxergar nada sem ele e todas as outras meninas estão usando lente agora, só que é uma coisa que também não faz parte da minha realidade. Mais sobre mim? Branca, cabelos lisos quase na cintura. Não me encaixo em nenhum padrão de beleza que as meninas da minha escola seguem. Gosto de moletom, blusas folgadas, tênis (que na maioria das vezes está rasgado), e fones de ouvidos. Sim, os fones não podem faltar no meu look por que a coisa que mais amo nessa vida é ouvir música.
Mas não se engane, tenho outros amores também: minha melhor amiga Lila, livros e pintar. Sou do tipo de pessoa que sai rabiscando tudo que vê (papelão, mesa, parede, alguns livros, folhas, guardanapos, etc). Sinto inspiração por moradores de rua, paisagens, crianças brincando, palhaços e tudo que reflete felicidade ou aflição. No meu horário livre eu costumo assistir um filme ou sentar para escrever meus pensamentos que as vezes são desesperadores e preciso expelir. Em geral, devo ser estranha. Pois moro com duas irmãs. Uma bem mais velha beirando os 27 e outra bem mais nova, com apenas 6 e acho que eu cuido delas e elas cuidam de mim. Meus pais morreram quando eu ainda era muito nova e hoje tento me virar com posso. Ah, minha idade? Tenho 14, quase 15 e todos da escola querem saber o que farei nessa data que para tantas meninas é tão especial.
Moro em uma cidadezinha pequena no interior de Minas Gerais e estudo em uma escola perto de casa onde todos (ou quase todos) participam de algo interessante, aquelas danças, futebol, lutas, sabe? Eu posso confessar que sou preguiçosa. Odeio até a educação física nas terças imagina qualquer esporte e deve ser por isso que meu corpo não é considerado o ideal. Tudo bem, eu sei, minha saúde no futuro será prejudicada ou posso ser mais uma sortuda que se enche de besteira e dorme a tarde toda, mas ter um futuro brilhante, me tornando uma mulher linda, com um emprego bom e uma casa bonita passando o resto dos meus dias escondendo minhas fotos do ensino médio. Não sou nerd, mas também não sou a garota mais burra da sala, só estudo (muito) para ver se consigo passar em um vestibular de primeira e não perder a bolsa de estudos.
Acho que não sou interessante. Normalmente os meninos só me param para zoar ou pedir ajuda em matemática e biologia. O Natan é que mais zoa de mim e além de chato é o menino mais bonito de toda a escola. Ainda não beijei na boca e não creio que para ser descolada tem que trocar milhões de bactérias através da saliva e ‘’mimmiis’’ de ‘’pra sempre’’ o tempo todo. A Lila, diferente de mim, já ficou com vários garotos, atualmente namora com o Rick, mas queria mesmo era estar com o João, e sem dúvidas é muito mais bonita do que eu.
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